sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Amigo down - Graça Graúna (UPE)

Graça Graúna (UPE)

ggrauna@yahoo.com.br


Na última década do século XX, o campo editorial brasileiro foi contemplado com a publicação de obras que pertencem ao contexto da chamada literatura inclusiva; contudo não é pequeno o público que ainda desconhece, por exemplo, o livro Meu amigo Down, na rua [1] , da escritora Claudia Werneck, com ilustrações de Ana Paula. Para início de conversa, convém sublinhar uma passagem em que o contador ou contadora de história apresenta e explica a grandeza desse personagem:

Eu gosto muito dele, meu amigo Down. Down porque ele tem s-í-n-d-r-o-m-e d-e D-o-w-n. Difícil explicar. Nasceu assim. Tem olhos puxados. É fera no videogame. Brinca como ninguém. Às vezes, é teimoso e malcriado, mas só quando tem razão. Bem, toda criança é teimosa e malcriada quando tem razão ( WERNECK, 2004, p. 6).

Ao contar a história com humor, o narrador ou narradora imprime o desafio de questionar o preconceito, sobretudo das pessoas adultas que ainda olham com estranheza quando se deparam com um Down na rua; como sugere o seguinte:

Eu acho estranho é na rua. Todos se viram para ele. Uns disfarçam, olham de lado, com jeito de quem quer mas não quer ver. Adulto é engraçado. São curiosos... Nunca viram ninguém diferente? Meu amigo Down é gente (p. 14).

Na pracinha, de vez em quando, alguém se aproxima com jeito de quem vai fazer pergunta. Depois desiste. Isso já aconteceu mais de uma vez. Adulto estranha quando vê alguém diferente. Criança não, acha tudo natural. Eu fico curioso: o que os adultos gostariam de perguntar para o meu amigo Down? (p. 17).

Preocupada com a falta de mais informações sobre o tema, Claudia Werneck escreveu, para os leigos, em 1992, o livro Muito prazer, eu existo. Pela abordagem em torno do direito de ser diferente e do respeito às diferenças, esse livro é considerada pelos especialistas como uma das obras brasileiras mais completas a respeito da chamada síndrome de Down. Três anos depois, a escritora Werneck demonstra, mais uma vez, seu compromisso com a inclusão ao publicar Um amigo diferente? (1995); um livro que trata da aventura humana, especificamente de crianças que vivem em meio a diabetes, doenças renais, alergias e outros problemas. Em 1998, por sua dedicação ao estudo da síndrome de Down, Claudia Werneck recebeu o título de Jornalista Amiga da Criança pela Fundação Abrinq e pela Agência de Notícias dos Direitos da Infância.

Em 1999, contrariada também com o uso e o abuso que se faz em torno da palavra “todos”, ela publica “Sociedade inclusiva: Quem cabe no seu TODOS? (1999). Para a UNICEF e à UNESCO, Meu amigo Down, na rua (2004) faz parte de um conjunto de leituras indispensáveis a quem deseja enveredar pelos difíceis caminhos em prol dos direitos humanos e entender, entre outras questões, conceitos como: cidadania, sociedade inclusiva, respeito, diferenças.



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[1] WERNECK, Claudia. Meu amigo Down, na rua. 6 ed. Rio de Janeiro: WVA, 2004, 24 p.

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